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XAVIER VILLAURRUTIA

 

 

NOCTURNO DE LA ESTATUA
                                          A Agustín Lazo

Soñar, soñar la noche, la calle, la escalera
y el grito de la estatua desdoblando la esquina.

Correr hacia la estatua y encontrar sólo el grito,
querer tocar el grito y sólo hallar el eco,
querer asir el eco y encontrar sólo el muro
y correr hacia el muro y tocar un espejo.
Hallar en el espejo la estatua asesinada,
sacarla de la sangre de su sombra,
vestirla en un cerrar de ojos,
acariciarla como a una hermana imprevista
y jugar con las flechas de sus dedos
y contar a su oreja cien veces cien cien veces
hasta oírla decir: «estoy muerta de sueño».

 

 

NOTURNO DA ESTÁTUA  
                                       A Agustín Lazo

Sonhar, sonhar a noite, a rua, a escada
e o grito da estátua dobrando a esquina.

Correr até a estátua e encontrar só o grito,
querer tocar o grito e só achar o eco,
querer prender o eco e encontrar só o muro
e correr até o muro e tocar um espelho.
Achar no espelho a estátua assassinada,
tirá-la do sangue da sua sombra,
vesti-la num fechar de olhos,
acariciá-la como a uma irmã imprevista
e jogar com as fichas de seus dedos
e contar à sua orelha cem vezes cem cem vezes
até ouvi-la dizer: "estou morta de sono."

 

 

NOCTURNO EN QUE NADA SE OYE

En medio de un silencio desierto como la calle antes del crimen
sin respirar siquiera para que nada turbe mi muerte
en esta soledad sin paredes
al tiempo que huyeron los ángulos
en la tumba del lecho dejo mi estatua sin sangre
para salir en un momento tan lento
en un interminable descenso
sin brazos que tender
sin dedos para alcanzar la escala que cae de un piano invisible
sin más que una mirada y una voz
que no recuerdan haber salido de ojos y labios
¿qué son labios? ¿qué son miradas que son labios?
Y mi voz ya no es mía
dentro del agua que no moja
dentro del aire de vidrio
dentro del fuego lívido que corta como el grito
Y en el juego angustioso de un espejo frente a otro
cae mi voz
y mi voz que madura
y mi voz quemadura
y mi bosque madura
y mi voz quema dura
como el hielo de vidrio
como el grito de hielo
aquí en el caracol de la oreja
el latido de un mar en el que no sé nada
en el que no se nada
porque he dejado pies y brazos en la orilla
siento caer fuera de mí la red de mis nervios
mas huye todo como el pez que se da cuenta
hasta ciento en el pulso de mis sienes
muda telegrafía a la que nadie responde
porque el sueño y la muerte nada tienen ya que decirse.

 

 

NOTURNO EM QUE NÃO SE OUVE NADA

No meio de um silêncio deserto como a rua antes do crime
sem sequer respirar para que nada perturbe minha morte
nesta solidão sem paredes
ao mesmo tempo em que fugiram os cantos
na tumba da cama deixo minha estátua sem sangue
para sair num momento tão lento
num interminável descenso
sem braços para estender
sem dedos para alcançar a escala que cai de um piano
invisível
sem nada afora um olhar e uma voz
que não se lembram terem saído de olhos e lábios
que são lábios? que são olhares que são lábios?
e minha voz já não é minha
dentro da água que não molha
dentro do ar de vidro
dentro do fogo lívido que corta como o grito
E no jogo angustioso de um espelho diante do outro
cai minha voz
e minha voz que madura
e minha voz queimadura
e meu bosque madura
e minha voz queima dura
como o gelo de vidro
como o grito de gelo
aqui no caracol da orelha
a pulsação de um mar no qual não sei nada
no qual não se nada
porque deixei meus pés e braços na orla
sinto cair fora de mim a rede dos meus nervos
mas tudo foge como o peixe que se dá conta
e conta até cem no pulso de minhas têmporas
muda telegrafia à qual ninguém responde
porque o sono e a morte mais nada têm a dizerem-se.

De Nostalgia de la Muerte ("Noturnos", 1936).

Traduções: Horácio Costa

 

 

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Xavier Villaurrutia nasceu em 1903, na Cidade do México, e faleceu em 1950. Foi poeta, crítico literário e dramaturgo. Realizou estudos de teatro no Departamento de Belas-Artes e escreveu roteiros de cinema. Villaurrutia fez parte do grupo dos Contemporâneos, juntamente com autores como Salvador Novo e Torres Bodet, e foi um dos editores da revista Ulises. Publicou, entre outros títulos, Dos noturnos (1931), Nostalgía de la muerte (1938) e Canto a la primavera y otros poemas (1948).

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