ZUNÁI - Revista de poesia & debates

[ retornar - outros textos - edições anteriores - home]

 

 

 WALLACE STEVENS



WALLACE STEVENS

 

 

DISILLUSIONMENT OF TEN O'CLOCK   

                       

The houses are haunted

By white night-gowns.

None are green,

Or purple with green rings,

Or green with yellow rings,

Or yellow with blue rings.

None of them are strange,

With socks of lace

And beaded ceintures.

People are not going

To dream of baboons and periwinkles.

Only, here and there, and old sailor,

Drunk and asleep in his boots,

Catches Tigers

in red weather.

 

  

DESENGANO DAS DEZ HORAS

 

As casas são assombradas

Por camisolas brancas.

Nenhuma é verde,

Ou púrpura, com fitilhos verdes,

Ou verde com fitilhos amarelos,

Ou amarela com fitilhos azuis.

Nenhuma é estranha,

Com meias de renda

E cinturas adornadas de contas.

Ninguém irá sonhar

Com babuínos e pervincas.

Somente, de vez em quando, um velho marinheiro,

Bêbado e dormindo de  botas,

Captura Tigres

Em tempo rubro.

 

 

OF MERE BEING

 

The palm at the end of the mind,

Beyond the last thought, rises

In the bronze distance,

A gold-feathered bird

Sings in the palm, without human meaning,

Without human feeling, a foreign song.

You know then that it is not the reason

That makes us happy or unhappy.

The bird sings. Its feathers shine.

The palm stands on the edge of space.

The wind moves slowly in the branches.

The bird's fire-fangled feathers dangle down.

 

 

DO MERO SER

 

A palmeira ao termo do espírito,

Além do último pensamento, surge

Na distância de bronze. Um pássaro de plumas de ouro

Canta na palmeira, sem humano significado,

Sem humano sentimento, uma canção estrangeira.

Sabes então que não é a razão

Que nos faz felizes ou infelizes.

O pássaro canta. Suas plumas refulgem.

A palmeira se alteia na fímbria do espaço.

O vento se move devagar nas ramas

Pendem do pássaro as plumas flamejantes.

 

 

ANOTHER WEEPING WOMAN

 

Pour the unhappiness out

 

From your too bitter heart,

 

Which grieving will not sweeten.

 

 

Poison grows in this dark.

 

It is in the water of tears

 

Its black blooms rise.

 

 

The magnificent cause of being,

 

The imagination, the one reality

 

In this imagined world

Leaves you

 

With him for whom no phantasy moves,

 

And you are pierced by a death.

 

 

OUTRA MULHER QUE CHORA

 

 

Deita fora toda a mágoa

 

Do teu amaríssimo coração

 

Que o luto não fará mais doce.

 

 

O veneno cresce na escuridão.

 

É nas águas de lágrimas

 

Que flores pretas afloram.

 

 

A causa esplendente do ser,

 

A imaginação, realidade una

 

Neste mundo imaginado

 

 

Prende-te a quem

 

 

Nenhuma fantasia move

E trespassa-te uma morte.

 

Tradução: Sueli Cavendish

 

 

 

 



 

*

Wallace Stevens (1879-1955), poeta norte-americano, um dos mais importantes do século XX.  Formado em Direito, profissão que exerceu até o fim da vida, foi também importante teórico e ensaísta. Seu livro de estréia, Harmonium (1923), tem influências do romantismo inglês e do simbolismo francês. Em obras posteriores, alinhou-se com as técnicas de vanguarda, tornando-se um expoente do modernismo literário. De sua produção poética, convém citar  Ideas of Order (1935), The Man With the Blue Guitar (1937), Notes Towards a Supreme Fiction (1942), e uma coletânea de ensaios sobre poesia, The Necessary Angel (1951). No Brasil, vários de seus poemas foram traduzidos, como O Homem da Neve (por Paulo Venâncio Filho), O Homem do Violão Azul (por Paulo Henriques Britto), A Poesia é uma Força Destrutiva (por Ronaldo Brito), O Rei do Sorvete (por Décio Pignatari) e Treze Formas de Olhar um Melro (por João Moura Jr.).

*

 

retornar <<<

[ ZUNÁI- 2003 - 2011 ]