ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 PAUL VERLAINE / ARTHUR RIMBAUD


 

 

LE SONNET DU TROU DU CUL

 

En forme de parodie d’un volume d’Albert Mérat, intitulé l’Idole, où sont détaillées toutes les beautés d’une dame : Sonnet du front, sonnet des yeux, sonnet des fesses, sonnet du... dernier sonnet.

 

Paul Verlaine fecit

 

Obscur et froncé comme un oeillet violet

Il respire, humblement tapi parmi la mousse

Humide encor d’amour qui suit la pente douce

Des fesses blanches jusqu’au bord de son ourlet.

 

Des filaments pareils à des larmes de lait

Ont pleuré, sous l’auteur cruel qui les repousse,

À travers de petits  caillots de marne rousse,

Pour s’en aller où la pente les appelait.

 

Arthur Rimbaud invenit

 

Ma bouche s’accouple souvent à sa ventouse

Mon âme, du coït matériel jalouse,

En fit son larmier fauve et son nid de sanglots

 

C’est l’olive pâmée et la flûte câline

C’est le tube où descend la céleste praline

Chanaan féminin dans les moiteurs éclos.

 

 

SONETO DO BURACO DO CU

 

Em forma de paródia a um livro de Albert Mérat, intitulado O Ídolo, onde se detalham todas as belezas de uma dama: soneto da face, soneto dos olhos, soneto das nádegas, soneto do... último soneto.

 

Paul Verlaine fecit

 

Franzido e escuro como um cravo violeta,

Ele suspira humilde, oculto sob a espuma

Ainda úmida do amor que escorre numa

Esfera glútea até que ao fundo se intrometa.

 

Alguns filetes, feito lágrimas de leite,

Choraram sob o irado austro que os arrasta

Pelos calhaus de marga vermelhosa e gasta,

Para sumirem na voragem do deleite.

 

Arthur Rimbaud invenit

 

Amiúde acoplo a minha boca na ventosa

Minha alma, da corpórea cópula invejosa,

Fez ninho de soluços no bueiro rubro

 

É o tubo de onde desce a ambrósia do delubro

É flauta carinhosa, é intumescida oliva

É fêmeo Canaã que eclode na saliva.

 

 

Tradução: André Vallias

 

 

Leiam outras traduções de Rimbaud.



 

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Verlaine (Paul Marie) (18441896), poeta simbolista francês. Nasceu em Metz, mas foi educado no Liceu Bonaparte (atual Liceu Condorcet), em Paris. Começou a escrever poesia ainda jovem, influenciado por Leconte de Lisle. Seu primeiro livro, Poèmes saturniens (1866), já apresenta temas e formas que o autor iria desenvolver em obras posteriores. Em 1870, casou-se com Mathilde Mauté. Neste mesmo ano acontece a Comuna de Paris e Verlaine adere ao movimento,  tornando-se chefe do escritório de imprensa. Após a derrota do movimento operário da Comuna, Verlaine inicia uma relação com Arthur Rimbaud, abandonando a esposa. Em julho de 1872, numa crise de desespero, Verlaine disparou dois tiros em Rimbaud, atingindo seu pulso. Por causa desse incidente, é preso em Mons, onde se converte à Igreja Católica. Romances sans paroles foi o resultado poético deste período. Após sair da prisão, o poeta viajou para a Inglaterra, onde trabalhou por alguns anos como professor e publicou Sagesse. Retornou à França em 1877, ensinando Inglês numa escola em Rethel. Os últimos anos de Verlaine foram marcados pela dependência de drogas, alcoolismo e pobreza. Paul Verlaine morreu em Paris com 52 anos de idade, em 8 de janeiro de 1896, e foi enterrado no Cimetière des Batignolles.

 

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Rimbaud (Jean-Arthur) (1854-1891), poeta simbolista francês. Seu pai era militar, e a mãe, católica devota. No colégio de Charleville, sua cidade natal, aprendeu grego e latim e escreveu os primeiros versos. O Barco Bêbado, sua primeira obra-prima, foi escrita aos 16 anos. Fugindo de casa para viver em Paris, o jovem Rimbaud entregou-se à bebida, ao jogo, aos estudos esotéricos e aos entorpecentes, e teve um caso amoroso com Verlaine, que resultou em escândalo. Após escrever Uma Temporada no Inferno (1872) e Iluminações (1874), poemas em prosa construídos numa linguagem imagética visionária, o poeta renunciou a sua arte e viajou para a África, onde se dedicou ao tráfico de armas e escravos. Contraindo séria doença, veio a falecer aos 37 anos. Rimbaud é o poeta maldito por excelência, e influenciou os surrealistas, a Geração Beat e a contracultura. No Brasil, seus poemas foram traduzidos por Ledo Ivo, Augusto de Campos, Maurício Arruda Mendonça e Rodrigo Garcia Lopes.

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