ZUNÁI - Revista de poesia & debates

[ retornar - outros textos - home ]

 

 

 VELIMIR KHLÉBNIKOV



Velimir Khlébnikov por Burliuk

 

 

TREVAS

 

Quando  não aguento  mais o  tédio,

Saio para o  sol  em  disparada,

Asa esvoaçando pelo  éter,

A virtude  e  o  vício  misturados.

Morro, eu  morro, o  sangue  escorre  a  cântaros

Na couraça  do  meu  corpo.

Caio em  mim – e  então,  de  novo,

Só enxergo  a  guerra  em  teu olhar.

 

1907 - 1914

 

 

 

 

CANÇÃO DE UM CONFUSO

 

Eu, na pintura de pedra,

Vejo agulhas de pinheiro.

Desossada me parece aquela mão,

Quando bate violenta em minha entranha.

Mas tão cedo assim? Estranho o hóspede

Que adentrou a casa ao pôr-do-sol:

Esqueleto erguendo lento os longos braços,

Para encher de estrelas a sala de estar.

 

1913

 

 

 

* * *

 

 

A noite, coalhada de constelações.

Que destinos, considerações,

Brilhas, livro, na amplidão do escuro

Fundo? Liberdade ou jugo?

Qual a parte que me cabe deste

Latifúndio-céu de estrelas?

 

1912

 

 

Tradução: André Vallias

 

*

Velimir Khlébnikov (1885-1922), poeta russo, foi um dos mais inventivos autores do século XX, segundo Roman Jakobson. Mentor da vanguarda cubo-futurista, criou a linguagem zaúm, ou transmental, formada por sons abstratos. Simpático à revolução socialista, participou da campanha do Exército Vermelho na Pérsia, em 1921. De volta à Moscou, enfrentou a miséria, a doença e a fome. Sua morte foi ignorada pelas autoridades oficiais. Apenas em 1928 suas obras completas foram publicadas, em cinco volumes. Por muito tempo, seu nome ficou de fora das enciclopédias e da história da literatura, pela censura estética do stalinismo, mas hoje é reconhecido como um dos principais renovadores da literatura russa. No Brasil, vários de seus poemas foram traduzidos por Augusto e Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman, na antologia Poesia Russa Moderna, além da prosa de ficção Ka,traduzida por Aurora Bernardini.

*

 

retornar <<<

[ ZUNÁI- 2003 - 2008 ]