ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

ROBERT CREELEY


AGAIN

One more day gone,
done, found in
the form of days.

It began, it
ended - was
forward, backward,

slow, fast a
sun shone, clouds,
high in the air I was

for awhile with others,
then came down
on the ground again.

No moon. A room in
a hotel - to begin
again.

 

DE NOVO

Outro dia ido,
adiado, achado na
forma de dias.

Teve início, teve
fim - foi adian-
tado, atrasado,

lento, logo um
sol brilhou, nuvens,
fiquei flutuando no ar

um tempo com outras,
então desci
de novo ao chão.  

Lua alguma. Quarto de
espelunca - começar
de novo.

 

NEW WORLD

Edenic land, Adamic person -
Foolishness is the price you´ll have to pay
For such useless wisdom.

 

NOVO MUNDO

Terra edênica, adâmico ser -
Estupidez o preço que você vai pagar
Por esse inútil saber.

 

THE MIRROR                                         

Seeing is believing.                                 
Whatever was thought or said,                 

these persistent, inexorable deaths          
make faith as such absent,                

our humanness a question,               
a disgust for what we are.                

Whatever the hope,                        
here it is lost.                                  

Because we coveted our difference,
here is the cost.

 

ESPELHO

Ver é crer.
O que foi pensado ou dito,

essas mortes persistentes, inexoráveis,
fazem fé assim ausente,  

nossa humanidade uma pergunta,
um nojo pelo que somos.

Seja que esperança for,
está perdida aqui.

Por termos cobiçado nossa diferença,
eis o preço.

 

AFTER PASTERNAK  

Think that it´s all one?
Snow´s thud, the car´s
stuck door, the brilliant,
patient sun -

How many millions of years
has it been coming
to be here just this once -
never returning -

Oh dull edge of prospect-
weary window on the past-
whatever is here now
cannot last.

 

DEPOIS DE PASTERNAK  

Acha tudo uma coisa só?
Pancada de neve, porta
do carro fechada, o sol brilhante,
paciente -

Quantos milhões de anos
para chegar e estar
aqui uma só vez -
nunca voltando -

Ah, triste margem de perspectiva -
janela exausta no passado -
agora, o que quer que viva
já não pode durar.

 

LIFE  

                           For Basil  

Specific, intensive clarity,
like nothing else
is anything
but itself -

so echoes all,
seen, felt, heard
or tasted, the one
and many. But

my slammed fist
on door, asking
meager, repentant entry
wants more.

 

VIDA

                     Para Basil

Claridade intensiva, específica,
como nada mais
que não seja
ela mesma -

isso ecoa assim,
vista, sentida, ouvida,
ou saboreada, uma só
e muitas. Mas

meu punho golpeia
a porta, pedido
escasso, contrita entrada
quer mais.

 

NATURE MORTE

It´s still
life. It
just ain´t moving.


NATUREZA MORTA

Ainda
viva. Só
não anda.


*


Traduções: Rodrigo Garcia Lopes

*

Robert Creeley foi um dos mais criativos poetas norte-americanos da segunda metade do século XX. Conhecido como editor do suplemento literário do Black Montain College, nos anos 50, esteve na linha de frente da revitalização da poesia de seu país, ao lado de autores como Robert Duncan e Charles Olson. A influência de Creeley foi decisiva sobre os poetas da Language Poetry, e também marcou o início do trabalho criativo de vários autores brasileiros que estrearam nos anos 90. Em homenagem ao poeta, que faleceu no dia 30 de março de 2005, aos 78 anos de idade, publicamos nesta edição da Zunái algumas traduções de seus poemas, feitas por Rodrigo Garcia Lopes.

*

 

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