ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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JULES LAFORGUE

 

Litanies des Premiers
Quartiers de la Lune

 

Lune bénie
Des insomnies,

Blanc médaillon
Des Endymions,

Astre fossile
Que tout exile,

Jaloux tombeau
De Salammbô,

Embarcadère
Des grands Mystères,

Madone et miss,
Diane-Artémis

Sainte vigie
De nos orgies,

Jettatura
Des baccarats,

Dame très-lasse
De nos terrasses,

Philtre attisant
Les vers luisants,

Rosace et dôme
Des derniers psaumes,

Bel oeil-de-chat
Que nos rachats,

Sois l'Ambulance
De nos croyances!

Sois l' edredon
Du Grand-Pardon!

 

 

Litanias dos Quartos
Crescentes da Lua

 

Lua sublime,
Nos ilumine!

É o medalhão
De Endimião,

Astro de argila
Que tudo exila,

Caixão milenar
De Salambô lunar,

Cais etéreo
Do alto mistério,

Madona e miss,
Diana-Artemis,

Santa vigia
De nossa orgia,

Jetaturá
Do bacará,

Dama tão pálida
Em nossa praça,

Vago perfume
De vaga-lume,

Rosácea calma
Do último salmo,

Olho-de-gata
Que nos resgata,

Seja o auxílio
A nosso delírio!

Seja o edredão
Do Grande Perdão!

 

Petites Misères de Mai

 

On dit: l' Express
Pour Benarès!

La Basilique
Des gens cosmiques!...

Allons, chantons
Le Grand Pardon!

Allons, Tityres
Des blancs martyres!

Chantons: Nenii!
À l' infini,

Hors des clôtures
De la Nature!

(Nous louerons Dieu,
En temps et lieu.)

Oh! les beaux arbres
En candélabres!...

Oh! les réfrains
Des Pèlerins!...

Oh! ces toquads
De Croisades!...

- Et puis, fourbu
Dès le début.

Et retour, louche
- Ah, tu découches!

 

Pequenas Misérias de Maio
(tradução/paródia)

 

- A Benares
Pelos mares!

A Basílica
Alquímica.

Eis a canção
Do Perdão.

O delírio
No martírio.

Não!, grito
Ao infinito,

Sem censura
Da vã Natura!

(Louvem a Deus
Até os ateus.)

Oh! castiçais
florestais!

Oh! os hinos
Dos peregrinos!

Oh! a ressaca
Das Cruzadas!

- É o início
Do comício.

Tiveste azia
Depois da orgia!


*

Traduções: Claudio Daniel

*

Jules Laforgue, poeta simbolista francês (1860-1887). O humor, a ironia, o espírito dandy e a obsessão pela morte são constantes em sua obra. Em vida, publicou apenas dois volumes: As Lamentações (1885) e A Imitação de Nossa Senhora da Lua (1886). Após sua morte precoce, aos 27 anos, os amigos fizeram imprimir duas obras póstumas, Moralidades Lendárias (em prosa, 1887) e Últimos Versos (1890). Laforgue é um poeta da logopéia, ou "dança do intelecto entre as palavras", segundo Ezra Pound. Já o crítico Edmund Wilson inclui o autor francês na vertente "coloquial-irônica" do Simbolismo, por seu uso de um vocabulário urbano e pelo tom de ironia e deboche.

*

 

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