ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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JUAN JACOBO BAJARLIA

 

 

EL DÉSPOTA

 

Variante para W. H. Auden

 

 

Era el señor de la vida y la muerte

Le bastara mirar para alimentar el terror.

Cuando sonreía y abría la boca derribaba una muralla.

Un día golpearon a su puerta:

alguien sonreía y abría la boca dibujando una mueca.

Una muralla lo devoró entre sus escombros.

 

 

 

O DÉSPOTA

 

Variante para W. H. Auden

 

 

Era o senhor da vida e da morte

Bastava olhar para alimentar o terror.

Quando sorria e abria a boca demolia uma muralha.

Um dia golpearam sua porta:

alguém sorria e abria a boca esboçando uma careta.

Uma muralha o devorou entre seus escombros.

 

 

 

POEMA SIN FINAL

 

el hierro desgajado

la voz en la bandera

la vida enredada en una página

henchida en los ojos que cubren nuestra piel

amanecida en la campana de fuego que late en nuestra

sangre

frágil

comunicante

tendida en la mirada

galopando en el ala de los pájaros

cubriéndose de escarcha en las estrellas

he aquí las palabras que no hallaron la red.

 

 

POEMA SEM FINAL

 

o ferro desgarrado

a voz na bandeira

a vida enredada numa página

cheia nos olhos que cobrem nossa pele

amanhecida na campana de fogo que lateja em nosso

sangue

frágil

comunicante

suspenso no olhar

galopando nas asas dos pássaros

cobrindo-se de geada nas estrelas

eis aqui as palavras que não encontraram a rede.

 

 

 

PROSA DE UN RECUERDO ACUMULADO

 

los ojos las manos las violetas de tu luz

los números chirriantes la escarcha enronquecida

tu color y mis pájaros

los arcos de un cielo devorado

las cadenas los días los vidrios

mis estandartes anegados

El fuego dividido en el humo de tus pasos

el aliento triturado en la palabra anochecida

tus cifras y mis puertas

el deseo vertido en alquimia alucinante

la imagem aguda en el ruedo de la catarata

tu silencio y mis columnas

encendieron el vino acorralado

ajustaron el aire de mi espera

los dedos los espectros los claveles de su límite

los himnos amarillos la danza encapotada

tu sabor y mis árboles

los hilos del temor en su cuadrante

las algas las arenas los astros

tus ecuaciones tiritantes

el alfabeto enredado en la escala de tus ojos

el ardor almibarado en los tableros de tu ausencia

tus anillos y mis labios

la densidad liberada en los muros de tu llama

la zarza sudorosa en el versículo caldeado

tus uñas y mis horas

reverdecieron las sombras quebradizas

destruyeron las aguas de mi voz.

 

 

 

PROSA DE UMA LEMBRANÇA ACUMULADA

 

os olhos as mãos as violetas de tua luz

os números estridentes a geada enrouquecida

tua cor e meus pássaros

os arcos de um céu devorado

as correntes os dias os vidros

minhas bandeiras submersas

O fogo dividido na fumaça dos teus passos

o alento triturado na palavra anoitecida

tuas cifras e minhas portas

o desejo vertido em alquimia alucinante

a imagem aguda ao redor da catarata

teu silêncio e minhas colunas

incendiaram o vinho encurralado

ajustaram o ar da minha espera

os dedos os espectros os cravos de seu limite

os hinos amarelos a dança encapotada

teu sabor e minhas árvores

os fios do temor em seu quadrante

as algas as areias os astros

tuas equações tiritantes

o alfabeto enredado na escala dos teus olhos

o ardor açucarado nos tabuleiros de tua ausência

teus anéis e meus lábios

a densidade liberada nos muros de tua chama

a sarça sudorosa no versículo escaldado

tuas unhas e minhas horas

reverdeceram as sombras quebradiças

destruíram as águas da minha voz.

 

* 

 

Traduções: Ana Maria Ramiro

 

 

 

*

 

Juan-Jacobo Bajarlía (1914/2005) nasceu em Buenos Aires, Argentina. Poeta, contista, ensaísta, novelista e dramaturgo. Entre 1948 e 1956 dirigiu a revista Contemporânea e integrou o movimento artístico "Concreto-Invención". Realizou inúmeras traduções do francês, italiano e inglês, incluindo autores como Aretino, Sade, Kandinsky, Ionesco, Jean Tardieu, entre outros. Foi colaborador dos jornais Clarín, La Nación, editor interino de suplementos literários e vice-presidente da Sociedade Argentina de Escritores (SADE). O autor, amigo próximo de Alejandra Pizarnik e Antonio Di Benedetto, faleceu em julho de 2005.

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