ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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JAIR CORTÉS

 

 

ENFERMEDAD DE TALKING

                                               

 

Puso incendio para el café,

quitó la tapa del cerillo

y se sacudió los perros de la cabeza.

 

La ventana de su librero

dejaba entrar la caja vieja de zapatos

que días antes había visto envuelta en el diciembre agrio y tostado del vaso.

 

Miró su rostro en el cajón:

sintió entonces la pintura correr por su latido,

ánimo del suelo el de su cuerpo recostado sobre la fina azotea comprada en Venecia.

 

Preguntó por ella:

respondió el toc (tic tac) toc de un pájaro que voló dentro de la licuadora.

 

-No sé más de mí-

contestaron las voces terribles de su gripe

que, a estas alturas de la fragancia, habían ya cocinado una pasta compuesta con letra de molde.

 

Dijo adiós,       

pero un ligero, casi imperceptible bosque,

le abrazó de pronto, y ella, de sí,

volvió otra vez a lo real

y contempló la cuchara ciega

que buscaba, esta vez,

azúcar por encima dela mesa.

 

 

 

DOENÇA DE TALKING

                                               

 

Pôs incêndio para o café,

retirou a tampa do fósforo 

e se sacudiu os cachorros da cabeça.

 

A janela da sua estante

deixava entrar a caixa velha de sapatos

que dias antes havia visto envolta no dezembro acre e torrado do copo.

 

Olhou seu rosto na gaveta:

Sentiu então a pintura correr por seu batimento,

ânimo do solo e de seu corpo recostado sobre o fino terraço comprado em Veneza.

 

Perguntou por ela:

respondeu o toc (tic tac) toc de um pássaro que voou dentro do liquidificador.

 

-Não sei mais de mim-

contestaram as vozes terríveis de sua gripe

que, a estas alturas da fragrância, haviam já cozinhado uma pasta composta com letra de forma.

 

Disse adeus,    

Mas um ligeiro, quase impercetível bosque,

o abraçou de imediato, e ela, em si,

voltou outra vez ao real

e contemplou a colher cega

que buscava, desta vez,

açúcar por cima da mesa.

 

 

 

LA ÚLTIMA CENA

 

 

Con el rojo vino de la tarde brindamos

y comimos queso  (el emental) entre risas y abrazos.

Un techo alto: grandes ventanas dejaban ver el cóncavo azul del mar/cielo.

Una vez que la cena estuvo lista, nos sentamos: reluciente vajilla (más de tres cubiertos siempre me han puesto nervioso, Señor). Éramos trece sin contar a la servidumbre. Vegetales al vapor, un aderezo a base de vinagre y pimiento estilo California, cordero al centro del plato (alquimia en la cocina, sacrificio y elogio para los comensales de ese día).

Yo miraba extensas planicies en tus ojos, parvada de luz alzando el vuelo, cuando, después del tintineo, ofreciste en voz ALTA tu casa como quien ofrece su muerte. Te imaginé subiendo la escala metálica por donde ascienden los que se marchan sin aviso.

Después, entrar en confianza, la garza del brazo derecho sosteniendo la copa.

Se fueron yendo, una por una, las horas,

(el Traidor era el tiempo).

Supe que no volvería  a ti nunca más. Trinitaria soledad la mía: sin ti, sin mí, sin nosotros dos.

Llegué hasta el balcón y descubrí que el mar cantábrico para mí: un dos tres, me decían las olas, un dos tres, dijo Cristo, ¡SALVACIÓN! para todos mis amigos

y para mí también.

 

 

 

A ÚLTIMA CEIA

 

 

Com vinho vermelho da tarde brindamos

e comemos queijo (o emental) entre risos e abraços.

Um telhado alto: amplas janelas deixavam ver o côncavo azul do mar/céu.

Uma vez que o jantar estava pronto, nos sentamos: louça reluzente (mais de três talheres sempre me deixam nervoso, Senhor). Éramos treze sem contar a criadagem. Vegetais no vapor, um molho a base de vinagre e pimentão estilo California, cordeiro no centro do prato (alquimia na cozinha, sacrifício e elogio para os comensais desse dia).

Eu olhava extensas planícies nos teus olhos, pássaros de luz alçando o vôo, quando, depois do brinde, ofereceste em voz ALTA tua casa como quem oferece sua morte. Te imaginei subindo a escaleira metálica por onde ascendem os que se vão sem aviso.

Depois, conquistar a confiança, a garça do braço direito sustentando a taça.

Se foram vendo, uma por uma, as horas,

(o Traidor era o tempo).

Soube que não voltaria a ti nunca mais. Trinitária solidão a minha: sem ti, sem mim, sem nós dois.

Cheguei até a varanda e descobri que o mar cantábrico para mim: um dois três, me diziam as ondas, um dois três, disse Cristo, SALVAÇÃO! para todos os meus amigos

e para mim também.

 

 

 

TARDANZA PUNTUAL

 

 

Yo soy el que a tu fiesta llega tarde

cuando algunos invitados se han ido

y otros ya comienzan a despedirse;

                                                                       

Yo, el que con sed y hambre,

llega hasta la cocina

y contempla este cerro

de tantos  platos sucios.

 

El que de mesa en mesa

saluda a los parientes.

 

Soy yo, el que de política no habla,

el que no alcanza tortillas calientes,

y  llega siempre (solo)

cinco minutos antes de la lluvia.

 

 

 

ATRASO PONTUAL

 

 

Eu sou o que na tua festa chega tarde

quando alguns convidados se foram

e outros começam a despedir-se;

                                                                       

Eu, o que com sede e fome,

chega até a cozinha

e contempla esta pilha

de tantos  pratos sujos.

 

O que de mesa em mesa

saúda os parentes.

 

Sou eu, o que de política não fala,

o que não alcança as tortilhas quentes,

e chega sempre (sozinho)

cinco minutos antes da chuva.

 

*

 

Tradução: Virna Teixeira

 

*

 

Jair Cortés nasceu em Tlaxcala, México em 1977. Tem vários livros de poesia publicados: A la luz de la sangre (1999), A flor de piel (2000), Nubes despiertas (2001), Dispersario (2001), Tormental (2002) e Contramor (2003), além do livro de ensaios A contraluz - Poéticas y reflexiones de la poesía mexicana reciente, com Rogelio Guedea (Fondo Editorial Tierra Adentro, 2005).

*

 

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