ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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GAO GE

  

 

PAISAGEM DE MACAU

Uma fera agachada na sombra de um castelo
são os seus olhos faróis a sondar todas as direcções
Um moinho de vento invertido faz lembrar a cruz brilhante
O século XIX atirou para o Oriente as lanças
cujos gumes cruzados reflectem os raios da santa cidade

A ponte da longa vida foi reduzida entre tintas de uma pintura chinesa
e a noite torna-se mais palpável no colo de uma mulher lasciva
A graça do vento marítimo é a ilusão do diamante na ágata negra
e as sombras que se movimentam nos raios giratórios
mantêm entre si a menor distância para que disparem um contra o outro

Passo a passo, a história tem vindo a entrar numa estação mais excitante
A redonda cama eléctrica tenta desgastar os limites da sua tipologia
O Deus que protege a Praça do Cavalo de Cobre saiu do memorial
ainda numa postura de dom Quixote
e os alcoviteiros adaptaram histórias eróticas com as lendas do herói

São histórias que se repetem todas as noites
porque nas gaiolas de luxo vive-se um ambiente sensual
em que os homens sobrevivem com uma sensação amorosa
Mas a questão é como manter a eterna erecção
e como fortalecer o regime representativo com o bálsamo mágico da Índia

"O jogo moderado dá prazer" é justificação do público para se divertir
Os "Come-moedas" funcionam ruidosamente para criar efeitos publicitários
Dominó, grande ou pequeno, roleta e bah ka lo deslumbram os olhos
Desde os assaltos dos piratas até aos desafios contra o rei do casino
tudo é uma combinação da civilização ocidental e da sabedoria oriental

A fome e o sexo são dois eixos da natureza
Hoje são os novos confucionistas que lideram a moda
Há quem se retire da rede de camarões
Há quem finja o porco para devorar o tigre
Há quem apanhe a galinha de patas amarelas
Há quem se torne no caranguejo de Dai Zah
Aqui se pode provar um vasto leque de especialidades
desde os bolinhos a vapor de Shangai
até as pamonhas com carne salgada do Território
O gosto tailandês e a delícia filipina fazem crescer água na boca

Não importa quem seja o cliente
compatriota da Formosa ou visitante do Japão
O que preocupa as dançarinas é o câmbio das moedas estrangeiras

e a nostalgia da terra é medida com a diferença
entre o dólar de Hong Kong e o da América
As meretrizes do norte já não sabem cantar "Quando o senhor regressa?"
e as beldades vestidas de cabaia ignoram o que é o "Tratado de Mong Há"

Para saciar o sexo é preciso explorar a imaginação histórica
No sonho de reencarnação a vida é fantástica e colorida
Reúnem-se os fantasmas de quatrocentos
junto dos Montes da Guia e da Penha
Por fim, o castelo reduziu-se a um recorte dentado
defendendo o Monte Carlo do Oriente indefeso.


Tradução: Yao Jingming

 

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Gao Ge, poeta de Macau, nascido em 1941. Mestre em Letras Chinesas pela Universidade de Wuhai e doutor em relações sino-ocidentais pela Universidade de Jinan, foi professor, jornalista e um dos fundadores do Clube dos Poetas de Maio de Macau. Publicou a Antologia Crítica sobre a arte e Poesia Contemporânea de Macau (crítica) e Fantasia do Mundo Sentimental (poesia), entre outros títulos. Participou da Antologia de Poetas de Macau (1999), organizada por Jorge Arrimar e Yao Jingming.

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