ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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EZRA POUND

 

ALBA


When the nightingale to his mate
Sings day long and night late
My love and I keep state
In bower,
In flower,
Till the watchman on the tower
Cry:

"Up!
Thou rascal, Rise,
I see the white
Light
And the night
flies"

 

ALBA


Quando o rouxinol pra sua amada
Canta o dia todo e a madrugada
Com minha amiga deito de mãos dadas
Sob folhas,
Sobre flores,
Até que lá da torre o sentinela
Berra:

"De pé, malandro, Vai!
Que eu vejo a jovem
Luz
E a manhã já
Vem"


Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

 


PROVINCIA DESERTA


At Rochecoart,
Where the hills par
                   In three ways,
And tree valleys, full of winding roads,
Fork out to south and north,
There is a place of trees. grey with lichen.
I have walked there
                   thinking of old days.

At Chalais
                   is a pleached arbour:
Old pensioners and protected women
Have a right there
                   it is charity.
I have crept over old rafters,
                   peering down
Over the Dronne,
                   over a stream full of lilies.
Eastward the road lies,
                   Aubeterre is eastward,
With garrulous old man at the inn.
I know the roads in that place:
Mareuil to the north-east,
                   La Tour,
There are three keeps near Mareuil,
And an old woman,
                   glad to hear Arnaut,
Glad to lend one dry clothing.  

I have walked
                   into Perigod,


I have seen the torch-flames, high leaping,


Painting the front of that church;


Heard, under the dark, whirling laughter.


I have looked back over the stream


                   and see the high building,


Seen the long minarets, the white shafts.


I have gone in Ribeyrac


                   and in Sarlat,


I have climbed rickety stairs, heard talk of Croy,


Walked over En Bertran's old layout,


Have seen Narbonne, and Cahors and Chalus,


Have seen Excideuil, carefully fashioned.

I have said:
                   'Here such a one walked.
Here Coeur de Lion was slain.
                   Here was good singing.
Here one man hastened his step.
                   Level with sunset,
have seen the copper come down
                   tingeing the mountains,
I have seen the fields, pale, clear as an emerald,
Sharp peaks, high spurs, distant castles.
I have said: 'The old roads have lain here.
Men have gone by such and such valleys
Where the great halls were closer together.'
I have seen Foix on its rock, seen Toulouse, and
                   Arles greatly altered,
I have seen the ruined 'Dorata'.
                   I have said:
'Riquier! Guido!'
                   I have thought of the second Troy,
Some little prized place in Auvergnat:
Two men tossing a coin, one keeping a castle,
One set on the highway to sing.
                   He sang a woman.
Auvergne rose to the song:
                   The Dauphin backed him.
'The castle to Austors!'
                   'Piere kept the singing
A fair man and a plesant.'
                   He won the lady,
Stole her away for himself, kept her against armed force:
So ends that story.
That age is gone;
I have walked over these roads;
I have thought of them living.

 

PROVINCIA DESERTA


Em Rochecoart,
Onde colinas repartem
                   três caminhos,
E três vales, plenos de sinuosas estradas,
Divisa para sul e norte,
Há um lugar de árvores... cinzas de líquen.
Caminhei ali
                   Pensando em dias idos.

Em Chalais
                   há um enleado caramanchão:
velhos pensionistas e mulheres protegidas
ali têm direito -
                   é caridade.
Deslizei sobre velhas vigas,
                   espreitando
Sobre o Dronne,
                   Sobre uma correnteza cheia de lírios,
A estrada deita rumo leste,
                   Aubeterre fica a leste,
Com velhos loquazes no albergue.
Conheço os caminhos naquele lugar:
Mareuil a nordeste,
                   La Tour,
Há três castros junto a Mareuil,
E uma velha contente de ouvir Arnaut.
Contente de emprestar roupas secas.

Andei até
                   Perigod,


Vi chama de tochas luzindo altivas,


Repintando a fachada daquela igreja;


Ouvi, na treva, volteados risos.


Votei a olhar a corrente


                   e vi os altos edifícios,


Vi os minaretes longos, as chaminés brancas.


Estive em Ribeyrac,


                   e em Sarlat,


Galguei frágeis escadas, ouvi falar de Croy,


Andei pela velha planta de En Bertran,


Vi Narbonne, e Cahors e Charlus,


Vi Excideuil, cuidadosamente estilizada.

Disse:
                   'Aqui aquele tal passou.
Aqui Coração de Leão foi trucidado.
                   Aqui cantava-se bem.
Aqui certo homem apressou o passo.
                   Nivelado ao ocaso,
Vi o cobre descer
                   tingindo os montes,
Vi campos pálidos, claros como esmeralda,
Cumes agudos, altas esporas, castelos distantes.
Disse: 'As velhas estradas deitaram-se aqui.
Homens transpuseram tais e tais vales
Aonde os grandes paços eram mais próximos.'

Vi Foix, em seu rochedo, vi Toulouse, e
                   Arles bastante modificadas


Vi a arruinada 'Dorata'.


                   E disse:


'Riquier! Guido!'


E pensei na segunda Tróia,


Algum lugar aprazível em Auvergnat:


Dois homens lançando uma moeda, outro zelando um castelo,


Um terceiro cantando na estrada.


                   Cantando uma mulher.


Auvergne  ergueu-se com seu canto:


                   O Delfim o apoiava.


 'O castelo para Austors!'


                   'Peire prosseguiu cantando -


Um belo homem e agradável.'


                   Ele conquistou a dama,


Roubou-a para si, manteve-a contra a força de armas:


Assim finda essa história.


Esse tempo passou;


Caminhei por essas trilhas;


Pensei nelas redivivas.

 

Tradução: Ruy Vasconcelos

 

THE ENCOUNTER


All the while they were talking the new morality
Her eyes explored me.
And when I arose to go
Her fingers were like the tissue
Of a Japanese paper napkin

 

O ENCONTRO


Enquanto conversavam sobre o novo moralismo
Os olhos dela me exploravam.
E quando levantei para partir
Seus dedos eram como a textura
De um guardanapo de papel japonês

 

Tradução: Virna Teixeira

 


THE BATH TUB


As a bathtub lined with white porcelain
When the hot water gives out or goes tepid,
So is the slow cooling of our chivalrous passion,
O my much praised but-not-altogether-satisfactory lady.

 

A BANHEIRA


Como uma banheira alinha a porcelana branca
Quando a água quente se esgota ou torna-se morna,
Assim é o lento refrescar da nossa paixão cavalheiresca,
Oh minha muito louvada mas-não-de-todo-satisfatória senhora.

  

Tradução: Virna Teixeira

 

FRATES MINORES


With minds still hovering above their testicles
Certain poets here and in France
Still sigh over established and natural fact
Long since fully discussed by Ovid.
They howl. They complain in delicate and exhausted metres
That the twitching of three abdominal nerves
Is incapable of producing a lasting Nirvana.

 

FRATES MINORES


Com mentes ainda pairando sobre seus testículos
Certos poetas aqui e na França
Ainda suspiram sobre o fato estabelecido
Há muito esgotado por Ovídio.
Eles uivam. Queixam-se em metros delicados e exaustos.
Que o espasmo de três nervos abdominais
É incapaz de produzir um Nirvana duradouro.

 

Tradução: Virna Teixeira

 

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Ezra Pound (1885-1972), poeta e ensaísta norte-americano, autor de Os Cantos, talvez o maior poema do século XX. Na década de 20, foi um dos líderes da vanguarda nos Estados Unidos, tendo lançado o Imagismo. Escreveu ensaios teóricos como o ABC da Literatura e A Arte da Poesia e traduziu poetas chineses da dinastia T'ang, trovadores provençais e poetas italianos do século XII, entre outros. De sua obra poética, além dos Cantos, que deixou inacabado, destacam-se Personae (1909) e Hugh Selwyn Mauberley (1920). Pound apoiou inúmeros artistas e escritores, como T. S. Eliot (que lhe dedicou A Terra Devastada), James Joyce e  Louis Zukofsky. Por seu engajamento em favor de Mussolini, durante a II Guerra, Pound foi preso e julgado traidor, sendo internado num manicômio (para escapar da sentença de morte), onde faleceu em plena atividade criadora.

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