ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

EDWIN MORGAN

 

THE DEATH OF MARYLIN MONROE

 

What innocence? Whose guilt? What eyes? Whose breasts?
Crumpled orphan, nembutal bed,
white hearse, Los Angeles,
Di Maggio! Los Angeles! Miller! Los Angeles! America!
That Death should seem the only protector -
That all arms should have faded, and the great cameras and lights
       become an inquisition and a torment -
That the many acquaintances, the autograph-hunters, the
       inflexible directors, the drive-in admires should become
       a blur of incomprehension and pain -
That lonely Uncertainty should limp up, grinning, with
       bewildering barbiturates, and watch her undress and lie
       down and in her anguish
call for him! call for him to strengthen her with what could
       only dissolve her! A method
of dying, we are shaken, we see it. Strasberg!
Los Angeles! Olivier! Los Angeles! Others die
and yet by this death we are a little shaken, we feel it,
America.
Let no one say communication is a cantword.
They had to lift her hand from the bedside telephone.
But what she had not been able to say
perhaps she had said. 'All I had was my life.
I have no regrets, because if I made
any mistakes, I was responsible.
There is now - and there is the future.
What happened is behind. So
it follows you around? So what?'- This
To a friend, ten days before.
And so she was responsible.
And is she was not responsible, not wholly responsible, Los Angeles?
       Los Angeles? Will it follow you around? Will the slow
       white hearse of the child of America follow you around?  

 

A MORTE DE MARYLIN MONROE

 

Que inocência? De quem a culpa? Que olhos? De quem os seios?
Orfã amarrotada, leito de nembutal,
carro fúnebre branco, Los Angeles,
Di Maggio! Los Angeles! Miller! Los Angeles! América!
Que Morte deveria parecer o único protetor -
que todos os braços deveriam ter desvanecido, e as grandes câmeras e luzes
       tornaram uma inquisição e um tormento -
Que os muitos conhecidos, os caçadores de autógrafos, os
       diretores inflexíveis, os fãs de drive-ins deveriam tornar
       uma mancha de incompreensão e dor -
Que solitária Incerteza deveria tropeçar, sorrindo, com
       barbitúricos atordoados, e olhá-la ao se despir e deitar
       sobre e na sua angústia
chamem por ele! Chamem por ele para fortalecê-la com o que poderia
       apenas dissolvê-la! Um método
de morrer, estamos chocados, assistindo. Strasberg!
Los Angeles! Olivier! Los Angeles! Outros morrem
e ainda por causa desta morte estamos um pouco chocados, nós a sentimos,
América.
Não deixe ninguém dizer que a comunicação é um jargão.
Eles tiveram que levantar sua mão do telefone ao lado da cama.
Mas o que ela não foi capaz de dizer
Talvez ela tenha dito. 'Tudo o que eu tinha era minha vida.
Não me arrependo, porque se cometi
alguns erros, eu fui responsável.
Existe agora - e existe o futuro.
O que aconteceu ficou para trás. Então
te persegue? E daí?'- Isto
para uma amiga, dez dias antes.
E então ela foi responsável.
E se ela não foi responsável, não completamente responsável, Los Angeles?
       Los Angeles? Vai te perseguir? Será que o lento
       carro fúnebre branco da criança da América vai te perseguir?

 

*

Tradução: Virna Teixeira

 

N.T.: nembutal: um tipo de barbitúrico.

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Edwin George Morgan, poeta escocês, nasceu em 1920. Foi professor na Universidade de Glasgow até 1980, quando se aposentou. O poeta sempre se interessou por diversas áreas (o que se reflete na sua escritura), como tecnologia, arte, cinema e idiomas estrangeiros. Traduziu poemas do russo, húngaro, francês, italiano, latim, espanhol, português, alemão e tcheco, entre outras línguas, tendo traduzido, inclusive, trechos de Galáxias e outros poemas de Haroldo de Campos. Escreveu ainda ensaios literários e peças de teatro. Sua poesia apresenta impressionante variedade de estilos e formas, do soneto à poesia concreta, do erudito ao popular. Edwin Morgan foi eleito o primeiro poeta laureado de Glasgow em 1999 e recebeu a Queen's Gold Medal for Poetry em 2000.

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Leia mais poemas traduzidos de Edwin Morgan.

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