ZUNÁI - Revista de poesia & debates

[ retornar - outros textos - home ]

 

 

CÉSAR VALLEJO

 

EPÍSTOLA A LOS TRANSEÚNTES

Reanudo mi día de conejo,
mi noche de elefante en descanso.

Y, entre mí, digo:
ésta es mi inmensidad en bruto, a cántaros,
éste mi grato peso, que me buscara abajo para pájaro;
éste es mi brazo
que por su cuenta rehusó ser ala,
éstas son mis sagradas escrituras,
éstos mis alarmados compañones.

Lúgubre isla me alumbrará continental,
mientras el capitolio se apoye en mi íntimo derrumbe
y la asamblea en lanzas clausure mi desfile.

Pero cuando yo muera
de vida y no de tiempo,
cuándo lleguen a dos mis dos maletas,
éste ha de ser mi estómago en que cupo mi lampara en pedazos,
ésta aquella cabeza que expió los tormentos del círculo en mis pasos,
éstos esos gusanos que el corazón contó por unidades,
éste ha de ser mi cuerpo solidario
por el que vela el alma individual; éste ha de ser
mi hombligo en que maté mis piojos natos,
ésta mi cosa cosa, mi cosa tremebunda.
En tanto, convulsivo, ásperamente
convalece mi freno
sufriendo como sufro del lenguaje directo del león;
y, puesto que he existido entre dos potestades de ladrillo,
convalezco yo mismo, sonriendo de mis labios.

 

 

EPÍSTOLA AOS TRANSEUNTE

Recomeço meu dia de coelho,
minha noite de elefante em repouso.

E, para mim, digo:
esta é minha imensidade em bruto, a cântaros,
este meu grato peso, que me buscara abaixo para pássaro;
este é meu braço
que por sua conta recusou ser asa,
estas são minhas sagradas escrituras,
estes meus alarmados testículos.

Lúgubre ilha me iluminará continental
enquanto o capitólio se apóie em minha íntima derrocada
e a assembléia em lanças clausure meu desfile.

Porém quando eu morrer
de vida e não de tempo
quando forem duas minhas duas maletas,
este há de ser meu estômago em que coube minha lâmpada
em pedaços,
esta aquela cabeça que expiou os tormentos do círculo
em meus passos,
estes esses vermes que o coração contou por unidades,
este há de ser meu corpo solidário
pelo qual vela a alma individual; este há de ser
meu umbigo em que matei meus piolhos natos,
esta minha coisa coisa, minha coisa tremebunda.
Enquanto isso, convulsiva, asperamente,
convalesce meu freio,
sofrendo como sofro da linguagem direta do leão;
e, posto que existi entre duas potestades de tijolo,
convalesço eu mesmo, sorrindo de meus lábios.

 

Tradução: José Arnaldo Villar

 

*

César Vallejo (1893-1938), poeta peruano de origem indígena. Viveu na França a partir de 1923. Sua obra, de acentuada experimentação estética, abordou temas sociais e políticos de seu tempo, como a guerra civil espanhola. Publicou, entre outros títulos, Os arautos negros (1918), Trilce (1922) e Poemas humanos (1939).

*

retornar <<<

[ ZUNÁI- 2003 - 2005 ]