ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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CÉSAR MORO
 

 

EL AGUA LENTA EL CAMINO LENTO

El agua lenta el camino lento los accidentes lentos
Una caída suspendida en el aire el viento lento
El paso lento del tiempo lento
La noche no termina y el amor se hace lento
Las piernas se cruzan y se anudan lentas para echar raíces
la cabeza cae los brazos se levantan
El cielo de la cama la sombra cae lenta
tu cuerpo moreno como una catarata cae lento
En el abismo
Giramos lentamente por el aire caliente del cuarto caldeado
Las mariposas nocturnas parecen grandes carneros
Ahora sería fácil destrozarnos lentamente
tu cabeza gira tus piernas me envuelven
tus axilas brillan en la noche con todos tus pelos
tus piernas desnudas
En el ángulo preciso
El olor de tus piernas
La lentitud de percepción
El alcohol lentamente me levanta
El alcohol que brota de tus ojos y que más tarde
Hará crecer tu sombra
Mesándose el cabello lentamente subo
Hasta tus labios de bestia

 

 

 

A ÁGUA LENTA O CAMINHO LENTO

A água lenta o caminho lento os acidentes lentos
Uma queda suspensa no ar o vento lento
O passo lento do tempo lento
A noite não termina e o amor se faz lentamente
As pernas se cruzam e se juntam lentas para deitar raízes
a cabeça cai os braços se levantam
O céu da cama a sombra cai lenta
teu corpo moreno como uma catarata cai lento
No abismo
Giramos lentamente pelo ar quente do quarto cálido
As borboletas noturnas parecem grandes carneiros
Agora seria fácil destroçarmo-nos lentamente
tua cabeça gira tuas pernas me envolvem
tuas axilas brilham na noite com todos teus pêlos
tuas pernas nuas
No ângulo preciso
O cheiro de tuas pernas
A lentidão da percepção
O álcool lentamente me deixa alto
O álcool que brota de teus olhos e que mais tarde
Fará crescer tua sombra
Alisando o cabelo lentamente subo
Até teus lábios de fera

 

 

 

Tradução: Claudio Daniel

 

 

 

 

VIAJE HACIA LA NOCHE

Es mi morada suprema, de la que ya no se vuelve
Krishna, en el Bhagavad Gita


Como una madre sostenida por ramas fluviales
De espanto y de luz de origen
Como un caballo esquelético
Radiante de luz crepuscular
Tras el ramaje dense de árboles y árboles de angustia
Lleno de sol el sendero de estrellas marinas
El acopio fulgurante
De datos perdidos en la noche cabal del pasado
Como un jadear eterno si sales a la noche
Al viento calmar pasan los jabalíes
Las hienas hartas de rapiña
Hendido a lo largo el espectáculo muestra
Faces sangrientas de eclipse lunar
El cuerpo en llamarada oscila
Por el tiempo
Sin espacio cambiante
Pues el eterno es el inmóvil
Y todas las piedras arrojadas
Al vendaval a los cuatro puntos cardinales
Vuelven como pájaros señeros
Devorando lagunas de años derruidos
Insondables telarañas de tiempo caído y leñoso
Oquedades herrumbrosas
En el silencio piramidal
Mortecino parpadeante esplendor
Para decirme que aún vivo
Respondiendo por cada poro de mi cuerpo
Al poderío de tu nombre oh poesía

Lima, la horrible, 24 de julio o agosto de 1949.

 

 

 

VIAGEM ATÉ A NOITE

É minha morada suprema, da qual não se retorna
Krishna,
no Bhagavad Gita

Como uma mãe sustentada por galhos fluviais
De espanto e de luz da origem
Como um cavalo esquelético
Radiante de luz crepuscular
Atrás a ramagem densa de árvores e árvores de angústia
Cheio de sol o caminho de estrelas marinhas
O estoque fulgurante
De dados perdidos na noite cabal do passado
Como um ofegar eterno se sai à noite
Ao vento tranqüilo passam os javalis
As hienas fartas de rapina
Rompido ao largo o espetáculo mostra
Faces sangrentas de eclipse lunar
O corpo em labareda oscila
Pelo tempo
Sem espaço cambiante
Pois o eterno é o imóvel
E todas as pedras arrojadas
Ao vendaval aos quatro pontos cardeais
Voltam como pássaros solitários
Devorando lagoas de anos derruídos
Insondáveis teias de aranha de tempo caído e lenhoso
Vacuidades enferrujadas
No silêncio piramidal
Morticínio pestanejante esplendor
Para dizer-me que ainda vivo
Respondendo por cada poro de meu corpo
Ao poderio de teu nome oh poesia

Lima, a horrível, 24 de julho ou agosto de 1949.

 

 

Tradução: José Arnaldo Villar.

 

 

 

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César Moro, pseudônimo de Alfredo Quíspez Asín, poeta e pintor peruano, nasceu em Lima, em 1903. Em 1925 viajou a Paris, onde aderiu ao movimento surrealista de André Breton, participando ativamente na publicação do Surréalisme au Service de la Révolution. Foi um dos principais representantes do surrealismo hispano-americano. Regressou a Lima  em 1933 e quatro anos mais tarde radicou-se no México, onde viveu a etapa mais produtiva de sua carreira. Com Emilio A. Westphalen editou a revista literária El uso de la palabra.  Em 1944, se afastou publicamente do surrealismo ortodoxo e voltou a Lima em 1948, fazendo amizade com o francês André Coyné, que foi o seu testamenteiro literário, publicando suas obras após a morte do poeta, ocorrida em 1956. Entre seus livros se destacam Le château de grisou (1943), Lettre d'amour (1944), Trafalgar Square (1954), Amour á mort (1957), La tortuga ecuestre  e Los anteojos de azufre  em 1958.

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