ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 ARTURO CARRERA



ARTURO CARRERA

 

 

CARPE DIEM

 

Dolor ligado a toda la alegría

por nexos,

por aparentes

conexiones.

 

 

...el ritmo que la risa trituró en el aire,

la voz lo devuelve farfullando

con amigos hermosos que no están ahora

pero que também se rieron.

 

(De Noche y Día, 2005)

 

 

 

CARPE DIEM

 

Dor ligada a toda alegria

por nexos,

por aparentes

conexões.

 

 

...o ritmo que o riso triturou no ar,

a voz o devolve gaguejando

com amigos belos que não estão agora

mas que também se riram.

 

 

 

CARPE DIEM

 

Volvimos.

La decisión de estar otra vez juntos

ella y yo —yo y ella; aquí

como en el haiku de Matsuo Basho:

“el hongo, la hoja de pino”:

 

 

 

 

 

Una suave adherencia ajena a la felicidad

que cerca de las palabras

resultó dichosa;

 

 

 

 

 

un silencio quejumbroso, quizás,

 

 

 

 

 

donde un músico preguntara todavía:

“¿cuál hongo? ¿cuál pino?

 

 

(De Noche y Día, 2005)

 

 

 

CARPE DIEM

 

 

Voltamos.

A decisão de estar juntos outra vez

ela e eu —eu e ela; aqui

como no haicai de Matsuo Bashô:

“o fungo, a folha de pinheiro”:

 

 

 

 

Uma suave aderência alheia à felicidade

que perto das palavras

resultou feliz;

 

 

 

 

um silêncio lamurioso, talvez,

 

 

 

 

onde um músico perguntara todavia:

“qual fungo? qual pinheiro?”

 

 

 

 

RÍO DE LA PLATA

 

En Tres Barquitos Pintados

vienen aún a los tumbosdice -. La Argentina

vuelve en la superficie ondulante

de un género impreciso: ¡el plata!

 

 

el plata no es un eco:

el dinero no es un eco.

 

 

el río desde mí

y esas palabras que de vos también se llevan

la mirada y los ojos ambiciosos

 

 

el río.

 

 

Los chicos que a su orilla se besan

parecen decir: “...quiero sostenerme

en tu sueño, padre frágil;

quiero sostenerme en

la desmesura de tu risa detenida... pero

viajera”.

 

 

Nuestro metal fiduciario no es el eco del destino,

ni de la plata que en tus entrañas imaginaron

los usureros que a tu orilla venían...

 

 

Ahora está lleno de cuerpos de hermosos jóvenes

que pagaron con su vida inocente el precio

de otro macabro potlatch.

 

 

Oh, único Eco: ¿Me oís? Te estoy llamando.

Ya no hay plata ni sueñera ni barro: es

sangre que en su coagulación eterna imita

el prestigio de otro río: el Nilo, el limo

donde viven como ideas, cuerpos intactos

en animación suspendida...

 

 

Y vivirán para mí, para mis hijos,

para mis deseadas descendencias como

figuras intocables del contrasentido en que fluimos,

 

 

¿es aún el equilibrio o la paz

nuestra

Antigua Moneda?

 

 

Aunque esta moneda es un lugar de memoria,

una Argentina, un Plata, un Amor,

una Presencia que todavía encalla. La de ellos,

tan inolvidables como la monedita inolvidable.

 

 

¿Acaso

no dijo Borges: “...pensé en una moneda

de 20 centavos que,

a diferencia de sus millares de hermanas,

fuera inolvidable,

 

 

que un hombre no pudiera olvidarla,

hasta el punto de no poder pensar

en otra cosa”?

 

 

...la mención del dolor argentino es ahora esta plata,

esta monedita que brilla en el fondo en cada puño,

en cada boca

parece

 

 

la augusta cárcel

del amor intangible y difícil...

 

 

El límite del horror y su repetición en

su vestigio,

más que los ruidos en el bolsillo,

su desfondado vacío,

 

 

y sólo en la memoria otra vez cada vez,

aquellos 20 centavos únicos,

de cara brillante y pegada a la vida,

a la salvación.

 

 

(De Potlatch, 2004)

 

 

 

 

RIO DA PRATA

 

Em Três Barquinhos Pintados

vêm ainda aos tombos – diz. A Argentina

volta na superfície ondulante

de um gênero impreciso: o prata!

 

 

o prata não é um eco:

o dinheiro não é um eco.

 

 

o rio desde mim

e essas palavras que de ti também levam

o olhar e os olhos ambiciosos

 

 

o rio.

 

 

Os meninos que em sua margem se beijam

parecem dizer: “... quero me manter

em teu sonho, pai frágil;

quero me manter na

desmesura de tua risada contida... mas

viajora”.

 

 

Nosso metal fiduciário não é o eco do destino,

nem da prata que em tuas entranhas imaginaram

os usurários que a tua margem vinham...

 

 

Agora está cheio de corpos de belos jovens

que pagaram com sua vida inocente o preço

de outro macabro potlatch.

 

 

Oh, único Eco: Me ouves? Estou te chamando.

Já não há prata nem modorra nem barro: é

sangue que em sua coagulação eterna imita

o prestígio de outro rio: o Nilo, o limo

onde vivem como idéias, corpos intactos

em animação suspendida...

 

 

E viverão para mim, para meus filhos,

para minhas desejadas descendências como

figuras intocáveis do contra-sentido em que fluímos,

 

 

é ainda o equilíbrio ou a paz

nossa

Antiga Moeda?

 

 

Ainda que esta moeda seja um lugar da memória,

uma Argentina, um Prata, um Amor,

uma Presença que ainda encalha. A deles,

tão inesquecíveis como a moedinha inesquecível.

 

 

Por acaso

Borges não disse: “... pensei numa moeda

de 20 centavos que,

à diferença de suas milhares de irmãs,

fosse inesquecível,

 

 

que um homem não pudesse esquecê-la,

até o ponto de não poder pensar

em outra coisa”?

 

 

... a menção da dor argentina é agora esta prata,

esta moedinha que brilha no fundo em cada punho,

em cada boca

parece

 

 

o augusto cárcere

do amor intangível e difícil...

 

 

O limite do horror e sua repetição em

seu vestígio,

mais que os ruídos no bolso,

seu vazio sem fundo,

 

 

e só na memória outra vez a cada vez,

aqueles 20 centavos únicos,

de cara brilhante e colada à vida,

à salvação.

 

 

Traduções: Ricardo Corona e Joca Wolff



 

*

Arturo Carrera nasceu em 1948 em Pringles, província de Buenos Aires (Argentina). Sua obra conta mais de vinte livros de poesia, ensaio e tradução, entre eles: Escrito con un nictógrafo (1972); Momento de simetría (1973); Oro (1975); La partera canta (1982); Ciudad del colibrí (1982); Arturo y yo (1984); Mi padre (1985); Animaciones suspendidas (1986); Ticket (1986); Children’s corner (1989); Negritos (1993); Nacen los otros (1993); La banda oscura de Alejandro (1994); El vespertillo de las parcas (1997); Palacio de los aplausos (com Osvaldo Lamborghini, 2002); Tratado de las sensaciones (2002); Carpe diem (2003), Potlatch (2004), El coco (2004), Noche y Día (2005), La inocencia (2005) e Las cuatro estaciones (2008). Cursou na Universidade de Buenos Aires estudos de medicina e letras e psicanálise com Oscar Masotta. Traduziu textos de Agamben, Haroldo de Campos, Pasolini, Mallarmé, Bonnefoy, Michaux, entre outros. Realizou leituras e leituras críticas de seus poemas nas Universidades de Nova York e Princeton (USA), no Centro de Estudos Leopardianos de Recanati e na Universidade de Macerata (Itália); em Trois Rivières (Canadá), e em Santiago e Valparaíso (Chile), em Santa Catarina e São Paulo (Brasil), no Paraguai e no México. Como professor de Literatura e Poética, trabalhou no Abroad Program das Universidades de Illinois e Carolina do Norte e na Fundação Antorchas. Editou na Internet, sob os auspícios do ICI, uma antologia de 37 poetas argentinos de menos de 37 anos: Monstruos, publicada pelo Fondo de Cultura Económica.

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