ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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ADOLFO MONTEJO NAVAS

 

 

SEM TÍTULO, MAS COM ÍMÃ

el sexo divide el amor en dos,
                                en uno,
en nada que no sea el Edén ahora,
cruzado de par en par,
              en medio de este aire
poseído hasta la médula.
Suena todo a paraíso, a antes de los labios.

 

O sexo divide o amor em dois,
                                   em um,
em nada que não seja o Éden agora,
cruzado de par em par,
                   no meio deste ar
possuído até a medula.
Soa todo a paraíso, a antes dos lábios.

 

* * *


A pie de página de tu rostro,
río soy para la esfinge abierta
       que crece desnuda.
Y puntiagudo a tu deseo, voy
       a las puntas arcano.
El silbo es amoroso, aceite y mirra.
Y lo que se ama se derrama,
savia blanca.

 

Ao pé da página de teu rosto,
rio sou para a esfinge aberta
         que cresce nua.
E pontiagudo a teu desejo, vou
         às margens arcano.
O silvo é amoroso, azeite e mirra.
E o que se ama se derrama,
seiva branca.

 

* * *

 
Sin título,
            la dicha boca abajo,
amén del himen, los contornos
naúfragos del fondo.
                          El péndulo
sabe a música, a vuelo que reclama
su veta azul de diosa. Eco así
de las horas dentro de su encaje
          de piernas esclavas.
Sin título, mas con imán.

 

Sem título,
                a delícia boca abaixo,
amém do hímen, os contornos
náufragos do fundo.
                                O pêndulo
sabe a música, a vôo que reclama
sua veia azul de deusa. Eco assim
das horas dentro de seu encaixe
         de pernas escravas.
Sem título, mas com ímã.

 

* * *

 

Cada vez más desnuda,
                    te abres
y te cierras conmigo dentro.
     Morada de mí,
yo te cubro con mis símbolos.
Arte salvaje el collar, las perlas.
¿A qué reino pertenece el origen
de lo mudo que no calla?
Latiendo el silencio, cambia
              el género de las cosas:
limo, oscuro, seda y fiebre.

 

Cada vez mais nua,
                   te abres
e te fechas comigo dentro.
       Morada de mim,
te cubro com meus símbolos.
Arte selvagem o colar, as pérolas.
A que reino pertence a origem
da mudez que não cala?
Latindo o silêncio, muda
              o gênero das coisas:
limo, obscuro, seda e febre.
 

 

* * *

 

Espacio donde el cobre habla
            más alto. Cabellera
alta, contraria a casi todo,
díme dónde se dilata el ruido
          inmensamente
dador de la lascivia, sus ramas
rojas, de tinta errante, sedientas.

 

Espaço onde o cobre fala
              mais alto. Cabeleira
alta, contrária a quase tudo,
diz-me onde se dilata o ruído
              imensamente
doador da lascívia, seus ramos
vermelhos, de tinta errante, sedentos.

 

 

* * *


 

Orillas dulces de tu deseo
para mi jaula. Eclipse
doble lleno de signos
encendidos, para mi corazón
atado a la sangre oscura.
Llévame a la noche fúlgida,
elemental, por la delicada senda,
por la urgencia oral. Es tan amado
pedir. Anudar: nombrar.

 

Margens doces de teu desejo
para minha jaula. Eclipse
duplo cheio de signos
acesos, para meu coração
atado ao sangue escuro.
Leva-me à noite fúlgida,
elemental, pela delicada senda,
pela urgência oral. É tão amado
pedir. Atar: nomear.

 

  *

 

Traduções: Ronald Polito.

 

 *

 

Adolfo Montejo Navas é poeta, tradutor e crítico de artes plásticas. Publicou diversos livros de poesia, dentre os quais 49 silêncios (projeto gráfico do autor e Dupla Design), Na linha do horiozonte / Conjuros (7Letras) e Pedras pensadas (Ateliê Editorial). Aforista singular - leia-se seu livro Da hipocondria (7Letras) -, é também criador de poemas-objeto e poemas-instalação, que puderam ser vistos, por exemplo, na exposição Versos-Objeto, realizada no Castelinho do Flamengo, no Rio de Janeiro, em 1998. Como tradutor, destaca-se sua extensa antologia de poesia brasileira publicada em 2001 na Espanha, intitulada Correspondencia celeste: nueva poesía brasileña (1960-2000). E como crítico de arte merecem atenção seus diversos ensaios, como os escritos a respeito da obra de Lygia Pape. Os seis poemas aqui apresentados fazem parte da suíte erótica Sem título, mas com ímã, composta por 25 peças, traduzida na íntegra por Ronald Polito e ainda inédita. (R.P.)

*

 

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