ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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GRETA BENITEZ

 

 

 

 

HELSINKI

 

Tudo o que nos une

Não é nada óbvio

Porém bastante sério

O livro sobre o crime

A foto tirada em Helsinki

Folhas de louro

Um sofá de couro (que eu detesto)

Lembra do resto?

Analgésicos

A sorte lida pelo anão

Laços de gorgorão

E a consumação do incesto.

 

VISITANTES

 

Eles chegaram correndo para se abrigar da neblina.

Lá fora o mundo quase acabava

e aqui dentro do apartamento

o jantar era o coração de Jack.

Mia trouxe berinjela recheada.

Antônio, o vinho shiraz e uma flor de pelúcia.

Lúcia estava com cara de mocinho de filme alemão.

Olivia veio vestida de boneca

e João estava mais belo do que nunca

em sua melancolia profunda (apesar de estar feliz por Jack).

Purpurina, vitral, espelhos, ventilador de teto

noite de brilhos.

E lá fora

no bosque de pêssegos

no meio da neblina

Angelina brincava de cantora de jazz

junto com a sósia de Marilyn Monroe.

 

HOTEL ALGONQUIN

 

Eu sou sua armadilha

Eu moro dentro do seu cigarro de baunilha

            Um gato vírgula

                        O outro gárgula

                                   E o terceiro dança.

Brinca de ponto de interrogação.

A taça de cristal do Hotel Algonquim vai ao chão.

ACORDE!

                        Eu sou o seu ponto de mutação.

 

AVISO:

 

Fechem suas portas

Porque o minotauro está à solta

E todas as noivas estão bêbadas.

As castanhas portuguesas estão envenenadas

E os drinks foram preparados

Não se sabe por quem.

O tornado é o sopro do homem do lago vermelho

E a purpurina vai se espalhar pela festa.

Fechem suas portas, famílias cristãs, cubram seus espelhos

Protejam suas virgens em tules sagrados

Porque os homens mais feios, agora belos são considerados

Eles são os noivos

E chegarão em fúria. 

 

GLITTERDAYS

 

O músico das luzes

Novo amante encontrado no patchouli

Entre os odores desobedientes das feiras

Homens novos se descobrem todos os dias

Homens nobres se cobrem todas as noites

Homens pobres se...

Homens podres nos...

Vento na cortina colorida

Madrugadas vetiver

 

 

 

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Greta Benitez nasceu em Curitiba (PR) em 1971. Publicou os livros de poesia Rosas Embutidas e Café expresso. Participou de várias antologias, entre elas Todo começo é involuntário (a sair em 2009, pela Demônio Negro). Pós-graduada em Marketing, trabalha como redatora publicitária.

 

Leia também os contos Confeitaria e Sobrado de Lúcifer de Greta Benitez.

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