ZUNÁI - Revista de poesia & debates

[ retornar - outros textos - edições anteriores - home]

 

 

ELAINE PAUVOLID

 

 

 

 

O SILÊNCIO COMO CONTORNO DA MÃO

 

Ao silêncio o vasto e lento não

o contorno como solução da mão

o silêncio como contorno da mão

o verso, fronteira, o nunca

senão contorno

o vazio, não.

 

o silêncio como contorno da mão.

 

 

* * *

 

As horas quedaram-se mortas,

inconseqüentes visões de dia.

Vieram em fila.

Comerem-me, parecia-me.

Se falo agora

é que pela sombra me escondia.

 

* * *

 

Deus não é uma pessoa. Deus é a folha.

 

* * *

 

Ainda não encontrei nada que fosse mais pedra que a própria pedra

 

 

* * *

 

AOS OLHOS CEGOS DA CORUJA

 

Os olhos cegos da coruja

carregam-me em sua sombra.

Nunca tive uma ave coruja

...talvez por isso me siga.

Tive cães, gatos, outros pássaros e flores,

nunca a coruja cega.

E ainda assim dói em mim a falta de luz,

este cuco sem relógio,

meu galo sem manhã.

A coruja, meu lado cego

de onde penso,

a total falta de espelho

que me olha.

 

 

COPACABANA DE MANHÃ

 

Copacabana de manhã,

lugar dos perdidos

cegos e suas latas, chocalhos

de mulheres e homens de olhares

cegos há muito

de outros olhos

outros não risos.

Copacabana de manha

é lugar dos que não tem paz

 

* * *

 

A cor que se pensa cor

não é tão cor

quando se pensa dentro

 

 

DOS MORTOS

 

Certos enterros são concertos:

o morto vai distante,

em forma intangível em nós se

encerra.

No concreto que o coveiro

sobre a morte acerta,

vamo-nos um pouco

em nossas pétalas.

 

 

AD VITAM AETERNAM

 

No espaço esqueço

que sou no tempo.

Num intervalo tento

alcançar a margem,

a sem limites.

Reescrevo-me

para saber-me

fora de alcance.

 

 

LÁPIDE

 

Tenho olhos que me cegam,

mãos que me pregam,

roupas sufocantes,

dedos que não tocam,

amigos que não vejo,

paixões que a alma não comporta.

Quem dera ser firme a porta...

 

 

*

 

Elaine Pauvolid, poeta e ensaísta, é carioca, de 1970. Participou de Vertentes, coletânea de poemas e fortuna crítica (Fivestar, 2009) em parceria com: Márcio Catunda, Marcio Carvalho, Ricardo Alfaya e Tanussi Cardoso. Autora de Leão lírico (edição da autora, 2008). Ganhadora do prêmio Biguá, concedido pela SADE - Sociedade Argentina de Escritores, em 2006. Participou de diversas antologias nacionais e da antologia Como angeles em llamas - Algunas voces latinoamericanas del S. XX.- Editorial Maribelina, sello de la Casa del Poeta Peruano/ Lima (abril/2004 - Uruguay).  Participou de Rios (Íbis Libris,2003) juntamente com os poeta Márcio Catunda, Ricardo Alfaya,  Tanussi Cardoso e Thereza Christina Rocque da Motta. Estudante de artes plásticas da Escola de Artes Plásticas do Parque Lage desde 2003. Autora de Trago(edição artesanal da autora, 2002), prefácio de Gerardo Mello Mourão.  Em 1998, estreou como poeta com Brindei com mão serenata o sonho que tive durante minha noite-estrela... (Imprimatur/7 Letras). Colabora com resenhas para imprensa desde e criou e edita Aliás, revista eletrônica de cultura, www.aliasrevista.com.br. Email para contato: epauvolid@gmail.com.

*

 

retornar <<<

[ ZUNÁI- 2003 - 2011 ]