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ANTONIO RISÉRIO


 

poema da catequese 2


Estranho ao santo
astro casto
branco e manco
engastando-se lasso
num canto sem vida
(o fogo afogado
a libido inibida),


o caraíba tupi
comia fumaça
coçava cabeça
tocava cabaça
e em graves cantares
e grandes beberes
gozava de graça
de muitas mulheres.


oca

Cava o passado.
Cava e escava,
escravo.
Cava o chão
do passado.

Erra na terra deserta.
Vela a vila desaparecida.
Deita na aldeia abandonada.
Chora na cidade fantasma.

Mas cava, escravo.
Cava e escava o passado.
Cava a esmo no ermo.
Cava o mesmo no mesmo.

(O alucinado sempre
repetindo o filme;
o criminoso sempre
no local do crime.)

Lavra, sulca, escarva.

E assim até chegar
ao carvão mais vivo
do ébrio coração escândalo
que brilho ainda resta:

uma chama na montanha,
outro fogo na floresta.


vers


*

amor que parte o claro riso
em querer desmedido
e recusa insana

amor que me toma
como um carrossel de sóis
e um girassol de lâmpadas

vê se me alumia
me esclarece
me doma


**

) sim não simnão nim são sins (

eis que não me sei
ser menos que seis
toda e cada vez

) sim não simnão nim são sins (

***

amor que vence os tigres
vê se vence a mim

e me arrasa e me ilumina

para que eu saiba
saber o sim


fim de caso 3

onde quer
que você
me esqueça


que eu
apareça
e cresça


fantasia
espessa


doendo
densa


na sua
cabeça

*


Antonio Risério, poeta, tradutor e ensaísta, nasceu em Salvador (BA), em 1953. Publicou, entre outros títulos, os ensaios Carnaval Ijexá (1981), Textos e Tribos (1993), Avant-Garde na Bahia (1995), Oriki, Orixá (1996), Ensaio sobre o Texto Poético em Contexto Digital (1998) e o livro de poemas Fetiche (1996).

Leia também um ensaio sobre Antonio Risério e a entrevista com o autor

*

 

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