ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 O CORPO COMO PROTESTO



Foto: Graziela Diez.
Performance de Fernanda Magalhães:
protesto contra a destruição e retirada de árvores do
Bosque Central de Londrina,
novembro de 2011.

Performance por Fernanda Magalhães

 

“Um corpo que 
se  posiciona nu frente 
a enxurrada de padrões e 
normas na sociedade.”

 

 

O projeto A Natureza da Vida, desenvolvido pela fotógrafa e performer Fernanda Magalhães, prevê ações em locais públicos, em parques ou praças em cidades diversas. O momento é registrado por vários fotógrafos e vídeomakers e as imagens editadas, tratadas e ampliadas compõem o trabalho. 

Foram realizadas seis ações entre os anos 2000 e 2012 em diversas cidades do mundo como no Central Park, em Nova York, Estados Unidos (2000), no Jardim de Luxemburgo, em Paris, França (5out2011), no Mar Negro, em Anapa (Ана́па), Krasnodar,  Rússia (24out2011), no Bosque Central, em Londrina, Paraná, Brasil (19nov2011), no Parque Del Prado, em Montevideo, Uruguay (2dez2011) e nos antigos barracões do Departamento de Arte Visual da Universidade Estadual de Londrina (27fev2012).

O trabalho desenvolvido por Fernanda Magalhães é composto das diversas ações realizadas em espaços públicos. A artista convida fotógrafos a fazerem as imagens de suas performances. Na sequência de outras séries, Fernanda aborda as questões do corpo através de um posicionamento político e é fotografada, quase sempre nua, discutindo padrões, estética e as diversidades. Uma ocupação do espaço, um posicionamento, colocando-se presente e visível.

A ideia destas ações é que sejam momentos inusitados de provocações fugazes. A artista não pretende um confronto com a polícia e nem um bate boca com o público. A proposta é realizar as fotos e sair rapidamente levando àqueles que presenciaram a ação à dúvidas sobre o que acontecia ali. Serão fotos para a imprensa? Uma propaganda? Moda? Fotografias de uma mulher gorda? As questões ficam no ar e nos olhares perplexos diante da cena.

As fotografias são realizadas como política de vida, atuações da artista que trazem questões sobrepostas em seus trabalhos, como momentos intensos e vida que pulsa. Surgem de manifestações, indagações, incômodos, como forma de protesto em situações diversas. Um corpo que se posiciona nu frente a enxurrada de padrões e normas na sociedade.

Magalhães questiona este entendimento e se posiciona transgredindo a regra e mostrando o seu corpo frente a todos, em locais públicos, como ser autônomo que insiste e persiste em ser e estar presente, atuante e inquirindo a todos. Um corpo que não se con(forma) e se faz visível afirmando sua existência.

A fotografia que ilustra esta página foi feita no Bosque Central de Londrina por Graziela Diez, em novembro de 2011. Juntamente com outras, foi feita como forma de protesto contra a destruição e retirada de árvores do local em atuação com o Grupo Ocupa Londrina e a ONG MAE Londrina.  A intenção do poder público era transformar parte da área, que preserva resquícios da mata original da região, em uma rua com paradas de ônibus em pleno coração e pulmão da cidade. Todos juntos conseguiram embargar a obra e transformar o lugar em área de preservação permanente. As imagens realizadas foram expostas durante as manifestações públicas dos moradores de Londrina indignados com a destruição de parte do Bosque Central, penduradas em varal junto com outros registros como poemas, desenhos, charges e fotografias produzidas por diversos artistas da cidade.

O corpo aqui extrapola o próprio discurso para se somar a um corpo social que se expressa publicamente em favor de uma causa coletiva. O corpo se coloca a serviço de todos e se posiciona nu perante a violência.

 

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Fernanda Magalhães (1962, Londrina, PR, Brasil). Artista, Fotógrafa, Performer, Professora da Universidade Estadual de Londrina, Doutora em Artes, UNICAMP, 2008, Especialista em Fotografia, Universidade Estadual de Londrina, 1997. Membro da Rede de Produtores Culturais da Fotografia do Brasil desde 2010. Recebeu o VIII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia 1995 Minc/Funarte pelo Projeto "A Representação da Mulher Gorda Nua na Fotografia". Publicou os livros "Corpo Re-Construção Ação Ritual Performance", Travessa dos Editores, 2010 e "A Estalagem das Almas" em parceria com a Escritora Karen Debértolis, Travessa dos Editores, 2006. Seu trabalho integra, entre outras instituições, o acervo da Maison Europèene de la Photographie em Paris, França. Entre as exposições nacionais e internacionais que participou destacam-se: "Fernanda Magalhães, Rogério Reis e Edu Simões – Trois photographes de FotoRio", Maison Europenne de La Photographie, Paris, França, 2011; "de viés", Centro de Fotografia, Fotograma 2011, Montevideo, Uruguai; “Eu me desdobro em muitos: a autorrepresentação na fotografia contemporânea”, FotoRio 2011, CCBB, Rio de Janeiro; “Corpo na cidade – performances em Curitiba”, Curitiba, 2009; “Mapas Abiertos – Fotografia Latinoamericana 1991-2002” - itinerância 2003/2008 - Palais dês Beaux-Arts, Bozar, The Centre for Fine Artes, Bruxelles, Bélgica (2008) /  Bienal de Lãs Artes de La Imagem, Zaragoza, Espanha (2007) / Festival de Cine de San Sebastián, Sala de exposiciones Kubo - Kutxaespacio del Arte, Donostia San Sebastián, País Vasco, España (2006) / Fotonoviembre 2005, Centro de Fotografia Isla de Tenerife, Santa Cruz de Tenerife, Espanha (2005) /“A Estalagem das Almas”, Londrina 2010 / Antuérpia/Bélgica 2008 / Rio de Janeiro/Fotorio 2007 / Brasília/Fotoarte 2007; “Corpo Re-Construção Ação Ritual Performance” ; “Panorama da Arte Brasileira”, MAM-SP, MAM-RJ, MAM-BA, 2001/2002; “Bienal Internacional de Fotografia Cidade de Curitiba”, Curitiba 1998 e 2000; “Balaio Brasil”, SESC Belenzinho/São Paulo 2000; “Body Politic Exhibit”, Syracuse/NY 2000.

 

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